
Orquestra Estudantil Municipal investe nos sonhos e no talento de jovens pelotenses
No mês em que se celebra em todo o mundo o Dia Internacional da Música, Pelotas tem motivos de sobra para comemorar. Desde maio, 25 alunos da rede municipal de ensino veem suas vidas sendo transformadas pelo poder da música, com a criação da Orquestra Estudantil Municipal. A harmonia e a melodia aprendidas nos ensaios, sob a regência da professora Lys Ferreira, ecoam para o dia a dia das crianças e adolescentes, e refletem em uma aposta para os seus futuros.
Fotos: Luiza Meirelles
O caminho é longo, mas o propósito em comum e o amor pela arte unem o grupo semanalmente para os ensaios; a maioria utilizando-se de instrumentos adquiridos pela Prefeitura, alguns levando os próprios.
“Ainda estamos engatinhando, mas já evoluímos muito. São jovens que vêm de escolas e realidades diferentes, ainda se acostumando com a sonoridade dos instrumentos. Todos muito talentosos, que precisavam de uma oportunidade como essa”, disse Lys.
A professora comemora os novos desafios que vêm pela frente: dia 12 de novembro, a Feira do Livro será palco para a estreia da Orquestra em um evento e a primeira oportunidade para apresentarem-se a um grande público. Uma mostra do que será esta experiência foi vivenciada pelo grupo dia 10 de outubro, quando os artistas percorreram escolas do Areal, a fim de mostrarem o projeto e inspirarem novos talentos.
Dia de estreia
A ansiedade intrínseca a toda estreia logo foi dando espaço ao entusiamo e à alegria de despertar em outros jovens o gosto e o amor pela música. Organização, disciplina e concentração não puderam faltar na manhã corrida de apresentações. Preparar instrumentos; tocar; guardar os itens; ir rumo à próxima escola. O padrão se repetiu três vezes durante as visitas às Escolas de Ensino Fundamental Afonso Viseu, Círculo Operário Pelotense e Cecília Meireles, sempre associado ao sorriso no rosto dos adolescentes e ao encantamento de representar a arte.
Fotos: Luiza Meirelles
No repertório, desde clássicos, como a 9ª Sinfonia de Beethoven e a trilha sonora do filme Titanic, até temas atuais conhecidos pelo público jovem, como Trevo, da dupla Anavitória, e Era Uma Vez, de Kell Smith. “Achei muito lindo e inspirador. Já conhecia o projeto, mas ver eles aqui me fez querer participar também da Orquestra”, admitiu a aluna da escola Cecília Meireles, Emily Rodrigues, 14, que toca flauta doce.
Novas experiências
O dia também foi de novidades para Carolina Poxela Borraz, 13 anos, que se apresentou nos vocais, pela primeira vez, com a Orquestra. A voz doce e afinada da adolescente emocionou o público que acompanhava as apresentações. Entre os espectadores, uma especial: a mãe – e fã número 1 – da estudante, que não escondeu o orgulho e o desejo de ver a filha seguindo no caminho da música. “O maior benefício é a alegria e a felicidade dela”, disse Chana Borraz.
Sobre a relevância de incentivar outros jovens a entrar neste universo, Carolina diz que considera importante, já que ele ainda é pouco divulgado no município. “Vamos seguir levando a Orquestra para outros colégios e introduzindo a música cada vez mais”, reforçou a menina.

Carolina em apresentação na Emef Afonso Viseu. Foto: Luiza Meirelles
A aluna da Afonso Viseu referiu-se ao cronograma de visitas que o projeto seguirá cumprindo; educandários do Fragata e das Três Vendas são as próximas regiões a receberem a apresentação do grupo.
O poder da música
Pedro Henrique tem 16 anos, estuda na escola municipal Ministro Fernando Osório e é autista. Os olhares atentos, as mãos coordenadas às teclas do teclado e o sorriso entusiasmado durante a aula demonstram como o projeto tem transformado sua rotina, que agora é completa com as aulas pela manhã e os ensaios à tarde.
“Às vezes ele toca durante três horas seguidas em casa, o que é muito difícil para um autista. A Orquestra trouxe um encantamento e uma emoção que tocaram ele e toda a nossa família… Veio para mudar as nossas vidas”, contou a mãe de Pedro Henrique, Karen Rosane Scheer.
A mãe faz questão de acompanhar todos os ensaios e se surpreende com o engajamento do filho que, mesmo estudando durante a manhã, sai de casa feliz e animado para a aula. Quando questionada sobre o que vê de mudanças no dia a dia de Pedro, Karen não tem dúvidas: “Ele está muito mais alegre, comunicativo e motivado. É um projeto lindo, que não faz bem só para o meu filho, mas para toda essa gurizada”.
Pedro Henrique tem 16 anos e toca teclado na Orquestra Estudantil. Fotos: Luiza Meirelles
A música também mudou a vida de Giovana Seixas, 13 anos. Estudante da Escola Municipal Cecília Meireles, a menina, que hoje toca piano e violão, vê na arte a possibilidade de conquistar os seus sonhos. “Não consigo definir o que é a música… Pra mim ela é abstrata e psicológica, uma paixão que quero levar adiante, poder ensinar meus filhos e netos a gostarem também”, deseja Giovana.
Investir em talentos
A Orquestra Estudantil Municipal é um projeto da Secretaria de Educação e Desporto (Smed), e foi idealizada pelo secretário Artur Corrêa, que assistiu uma apresentação da Orquestra Estudantil Areal, coordenada pela professora Lys Ferreira há quatro anos. Trabalha tanto a parte teórica – de instrumentos como violino, viola, flauta, violão, contrabaixo, violoncelo e teclado – como a prática. Os ensaios ocorrem todas as segundas-feiras, das 15h às 18h, no auditório da Escola Técnica Estadual João XXIII.
Os alunos da rede municipal interessados em compor o projeto devem possuir algum instrumento – uma vez que todos os disponibilizados pela Smed já são utilizados na Orquestra – e também ter um pouco de experiência para acompanhar o grupo. Mais informações com a professora Lys, de segunda a quarta-feira de manhã, no telefone 3284-2600.
Conhecimentos que enriquecem
Neste mês, o grupo pôde aprender e ensaiar com a professora de violino da Universidade Federal do Ceará (UFC), Liu Man Ying, que veio a Pelotas para apresentar metodologias de ensino coletivo de cordas. A especialista aponta a música como uma ferramenta para canalizar sentimentos e, ao mesmo tempo, internalizar elementos benéficos para a vida destes jovens, entre eles, a disciplina.
“A música é, acima de tudo, terapêutica e uma das únicas linguagens em que se pode conversar várias vozes ao mesmo tempo. Essa harmonia ajuda a organizar o interior das crianças que, muitas vezes, não conseguem processar as dificuldades que vivenciam e as transformam em atos violentos”, explicou Liu.