
João Simões Lopes Neto ganha vida no curta de Manoel Magalhães
De repente, João Simões Lopes Neto abre os olhos e se vê “prisioneiro do bronze”, sentado em um banco da Praça Coronel Pedro Osório e, a partir daí, vivencia uma série de situações inusitadas. A história, em realismo fantástico, foi criada pelo escritor, roteirista e artista visual Manoel Soares Magalhães no curta-metragem “A última morada de João Simões Lopes Neto”, dirigido por Márcio Kinzeski. A estreia da produção de baixo orçamento, de cerca de 20 minutos de duração, ocorre nesta sexta-feira (8), às 16h, no Museu do Doce (Casa 8, da Praça Coronel Pedro Osório), dentro da programação da 47ª Feira do Livro de Pelotas, com entrada franca.
“O filme deve causar um certo estranhamento e, com certeza, é uma boa oportunidade para as pessoas refletirem sobre os talentos de Pelotas e sobre como os artistas são vistos e tratados pela cidade. O personagem diz várias frases de alto impacto à sociedade pelotense, tanto daquela época – final do século 19 e início do 20 – quanto atual. O Manoel conseguiu captar a essência poética da maneira como o João escreve para criar as falas dele, no roteiro, de modo que, mesmo sendo realismo fantástico, fica verossímil”, revela o ator Vagner Vargas, que perdeu cerca de 10 quilos para “dar vida” a Simões Lopes Neto no curta.
Fotos: Divulgação.
A relação de Vargas, que hoje mora em Portugal, com Simões Lopes Neto é antiga. Admirador declarado de Simões, que considera um visionário do seu tempo, Vargas já o havia interpretado em diversas ocasiões, além de ter escrito sobre ele, dirigido textos dele e até recitado um poema de Simões.
Reconhecimento tardio
Mas se equivoca, contudo, quem acredita que Simões Lopes Neto sempre foi reconhecido e respeitado. “João foi condenado pela sociedade do seu tempo, apenas porque era diferente, pensava diferente. Seu valor só veio décadas após a sua morte e, mesmo assim, sempre há alguém que, quando se refere a ele, usa expressões como ‘o empresário falido’, ‘aquele que torrou a fortuna da família’, ‘aquele que morreu pobre’... Fazem isso ainda no instinto de depreciar um talento local e também por resistirem em valorizar alguém que era diferente dos demais de sua época”, dispara o ator.
Um visionário
Na virada do século 19 para o 20, Simões Lopes Neto escreveu uma peça de teatro com elementos do teatro do absurdo, antes mesmo da escola literária ter sido conceituada e nomeada assim na Europa. “Ele tinha propostas pedagógicas muito à frente do seu tempo, desenvolveu um defensivo biológico contra pragas nas lavouras, valorizou as histórias das pessoas simples da sociedade como argumentos para as suas obras, foi tradutor de francês, escrevia para teatro musical, convencional, sem falar na parte literária”, recorda Vargas.

Foto: Divulgação.
A ideia do filme
“O filme nasceu do resultado de minhas andanças pela cidade, sobretudo pela Praça Coronel Pedro Osório. Num final de tarde de inverno, um tanto chuvosa, após peregrinar meio sem destino, fotografando prédios e lugares para a série ‘Recantos de Pelotas’, que desenvolvo há anos, parei diante da estátua de Simões Lopes (escultura em bronze, em tamanho real, afixada em um banco da praça, em 2016), olhando-a detidamente. Logo ocorreu-me a maluca ideia de ver o escritor, mercê de uma prestidigitação, erguer-se e caminhar pela praça. Ali, naquele instante, nasceu o conto que daria origem ao roteiro do curta-metragem”, conta Magalhães.
A equipe agradece Paulo Pedrozo, da Secretaria de Cultura (Secult), que viabilizou o equipamento técnico para a exibição do curta-metragem, e a Universidade Federal de Pelotas, pela cessão da sala em que será exibido o filme.

Cartaz do filme - Divulgação.
Ficha Técnica
Título do filme: A última morada de João Simões Lopes Neto
Produção: Zeski Filmes e ARTPel
Direção: Márcio Kinzeski
Roteiro: Manoel Soares Magalhães
Elenco: Vagner Vargas, Clemente Viscaino, Roberta Pires e Hakeen Mhucale
Figurino do personagem João Simões Lopes Neto: Andrea Mazza Terra e Gê Fonseca
Caracterização (cabelo e maquiagem) do personagem João Simões Lopes Neto: Gutto Pereira
Caracterização (cabelo e maquiagem) da atriz Roberta Pires: Oswaldo Beauty
Foto Still: Rogério Farias
Apoio técnico (grua, traveling): Sérgio Bizarro
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