
Pelotas tem abrigo exclusivo para crianças e adolescentes com deficiência
Qualquer criança abrigada é considerada em situação de vulnerabilidade. As com deficiência, fora de casa por terem seu espaço em região inundada ou sob risco de inundação, estão ainda mais vulneráveis. Por isso, parceria entre Prefeitura e Casa Cenáculo viabilizou o abrigo com as condições adequadas a esses pequenos, adolescentes e suas famílias. A capacidade é de até cem pessoas e, até as 16h desta terça-feira (14), 14 famílias – 47 pessoas – estão ocupando o local.
Fotos: Alessandra Meirelles
No abrigo, as crianças encontram possibilidade de socialização, mas também espaço silencioso e organizado, quando precisam. O Cenáculo, à avenida Dom Joaquim quase esquina Fernando Osório, tem estrutura diferenciada. Cada família fica em um quarto, ou em mais se necessário. A cada dois quartos, tem um banheiro amplo com chuveiro. Nos espaços de convivência, há muita atividade lúdica, com mesas para pintura, brinquedos educativos, pelúcias, além de televisão, apenas com programas infantis, e tatames. Também existem salas de relaxamento, refeitório e sala de saúde com médicos e psicólogos.
A responsável pelo espaço é a coordenadora do Pacto Pelotas pela Paz, Aline Crochemore. Segundo ela, a maioria das famílias possui crianças com autismo. Todas aparentam estar bem adaptadas e satisfeitas. “O ambiente está fazendo a diferença para que as pessoas tenham uma rotina regular e adequada às suas necessidades, com acesso a serviços de saúde, psicológico e psicopedagógico”. Apesar de ter equipe de servidores municipais e voluntários 24 horas por dia – aproximadamente 40 por turno – as crianças ficam sob a responsabilidade dos familiares. Por orientação do Ministério Público, em nenhum momento elas podem circular desacompanhadas e a família é orientada a supervisionar todas as atividades, inclusive quando forem ao banheiro.
Fotos: Alessandra Meirelles
Para utilizar o abrigo do Cenáculo, é necessário que uma criança ou adolescente tenha algum tipo de deficiência, e sua família pode acompanhá-lo. Pequenos não podem ficar sem os responsáveis, mas a equipe está preparada para receber algum que seja resgatada sem os pais, em uma sala especial, a Sala Sol. Diferentemente dos demais abrigos, não é necessário encaminhamento. Basta que a família chegue ao local que será acolhida.
Fotos: Alessandra Meirelles
Cassandra Bonazza Oliveira é moradora do Campo do Osório, região conhecida como do São Gonçalo, e saiu de casa com os três filhos – de 18, dez e seis anos – na terça-feira (7), quando agentes de segurança passaram pela rua onde mora a família e alertaram para a situação de risco. No dia seguinte (quarta, 8), foram para um dos abrigos da Prefeitura, onde ficaram por algumas horas. O barulho e a falta de controle do espaço, que fazia com que algumas pessoas se encostassem nas camas de outras, levaram o filho de dez anos, que tem deficiência intelectual, autismo e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a uma crise. A família saiu para que ele se acalmasse. Quando voltou, já havia o encaminhamento para que fosse transferida para o Cenáculo.
Cassandra conta que o atendimento no abrigo é perfeito. “O que mais se precisa a gente tem: atenção e carinho. O acolhimento foi muito bom”, garante, ao contar que sofreu um pico de pressão e recebeu atendimento imediato e acompanhamento da médica até que normalizasse. Admite que sentiu vontade de ir embora na quinta-feira (9), primeiro dia de sol depois do abrigamento. No entanto, o filho de dez anos pediu para ficar. Ele teme voltar para casa depois de tudo o que viu. Por isso, vai esperar até que as autoridades garantam que o retorno é seguro. “O vento vai levar essa água, vai encher um pouco antes, mas não como foi em Guaíba. A vontade é de voltar para minha casa. O que me segura aqui são os meus filhos, a vida deles. Se eu fosse sozinha, não estaria aqui, mas eu sou mãe, eu tenho que zelar por eles”, concluiu a dona de casa, que teve seus sete gatos, seis cachorros, oito galinhas e dois patos encaminhados a abrigos de animais, e que voltarão para casa com ela, quando for seguro.
O abrigo conta com o suporte da Secretaria de Assistência Social (SAS), com alimentos, roupas e materiais de higiene e limpeza, bem como das secretarias de Saúde (SMS) e de Educação e Desporto (Smed), por meio do Centro de Apoio, Pesquisa e Tecnologias para Aprendizagem (Capta), além de apoio de entidades assistenciais, como Associação de Amigos, Mães e Pais de Autistas e Relacionados com Enfoque Holístico (Amparho), Associação de Pais de Pessoas com Síndrome de Down de Pelotas (Apadpel), e a participação voluntária de movimentos sociais da Igreja Católica – Cenáculo, Emaús, Nazaré, Cursilho, Cristão Familiar e Universidade Católica de Pelotas (UCPel).