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Mulheres da Z3 trazem relatos com bruxas e fantasmas

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Por Divulgação 18-05-2017 | 00:00:00
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Seis mulheres protagonizaram o bate-papo descontraído e, no mínimo, curioso, de pouco mais de uma hora e repleto de relatos envolvendo bruxas, fantasmas e outros mitos da Colônia Z3, no início da noite desta quarta-feira (17), no Casarão 6 da Praça Coronel Pedro Osório. “A Colônia Z-3 pela voz das mulheres” foi o título da primeira edição do ano do Conversas do Dia do Patrimônio, que acontece em agosto e este ano traz o tema “Territórios daqui: identidades e pertencimento”. As personagens principais da Conversa foram Rosa Maria Mota Souza, de 58 anos, Maria Helena Rosa da Silveira, 55, e Eva Regina Pereira Campos, também 55, as três são representantes femininas de coletivos da Colônia Z3 e se desdobram entre os filhos – duas delas têm dez filhos cada -, afazeres domésticos e a lida com os pescados. As histórias envolvendo fantasmas são tantas que até o “corujão”, ônibus que ia para a Z3 de madrugada, foi suspenso. “Muita gente dizia que uma mulher entrava, se sentava lá atrás, no ônibus, e depois desaparecia, do nada”, conta Rosa. Outro mito refere-se à existência de três bruxas no Cedrinho. Rosa disse que uma benzedeira “que sabe identificar bruxas” contou que um de seus filhos estava com o céu da boca roxo porque uma das bruxas estava “chupando o menino”. Rosa benzeu o menino, aprendeu a “Oração da Bruxa” e não deu outra: “O guri começou a comer e engordar e sumiu o roxo da boca”. Em outro momento, relatou episódios com fantasmas que ocorrem sempre na região do Totó, no caminho para a Z3. O último teria ocorrido há cerca de um mês, por volta das 23h. Um de seus filhos vinha em um carro com uma conhecida e os dois “viram” um homem sentado no bando do carona, que desapareceu em seguida. Ficaram aterrorizados. “Isso é real, é verdade”, garantiu Rosa. O filho agora se nega a passar pela área quando está escuro. Estagiária de serviço social da Unidade Básica de Saúde (UBS) Colônia Z3, Francine Marques disse que acompanha há 18 meses a vida da comunidade e está encantada com o lugar. “Descobri um outro mundo, com seus mitos, suas assombrações, de uma riqueza cultural e potencial turístico que vão muito além do ‘peixe na Semana Santa’. A cidade precisa olhar mais para a Z3.” Os belos artesanatos produzidos pelas redeiras da Z3 também teve destaque no encontro. Moradora da Z3, a designer gráfico Natália Bernardo sabe que é uma exceção no local em que pouca gente consegue escolher e seguir uma profissão. O baixo nível de escolaridade, por dificuldade de acesso, foi outro problema debatido na Conversa. Natália disse que uma pesquisa realizada com jovens da Z3, em 2013, apontou que o maior medo deles é não conseguir realizar os seus sonhos. “Essa dificuldade de escolaridade também vira um estigma e somente por ‘ser da Z3’ sofremos ‘podas’ e somos passíveis de discriminação”, confidenciou. “A maior preocupação das mães é o que os seus filhos vão fazer no futuro”, disse Angelita Ribeiro, assistente social do Campus Visconde da Graça do Instituto Federal Sul-rio-grandense (CAVG/IFSul) que foi mediadora do encontro. Ela é autora da dissertação de mestrado \\"Bruxas, Lobisomens, Anjos e Assombrações na Costa Sul da Lagoa dos Patos – Colônia Z3, Pelotas: Etnografia, mitologia, gênero e políticas públicas\\". Para tentar oferecer perspectivas para os jovens, foi criado há um ano o projeto Comunidade em Rede, com participação da prefeitura (Secretarias de Saúde e de Educação e Desporto), da igreja, do Ministério Público e das universidades Federal e Católica. “O objetivo é oferecer atividades, sobretudo a crianças e adolescentes, para lembrá-los de suas potencialidades, elevar sua autoestima e assim mantê-los afastados das drogas e do tráfico”, explicou Francine. As atividades são decididas em assembleia, com a participação da comunidade e as organizadoras fazem um apelo a outras instituições para que proporcionem oficinas e atividades que se somem ao projeto. Outros problemas sociais vivenciados pelos moradores da Z3 são a exploração dos atravessadores (os pescadores fazem o trabalho pesado e, por não disporem de freezers ou meio de transporte, recebem muito pouco pelos pescados, enquanto os comerciantes lucram) e a criminalização dos pescadores artesanais, que cada vez mais perdem espaço para a indústria. As moradoras e profissionais que atuam na Colônia Z3 contam que muitos são tratados como bandidos pelo Ibama e recolhidos ao Presídio. A comunidade se une para juntar recursos e pagar a fianças, para tirá-los da prisão. Segundo elas, as leis se baseiam em estudos ultrapassados, muitas coisas mudaram, há novos fatores que interferem na pesca e os pescadores os conhecem. Uma consequência desse tratamento é o uso de maneira exacerbada de álcool e ansiolíticos, constatado pela assistente social da UBS, Vera Garcia. Professora de Antropologia da UFPel, Louise Prado Alfonso destacou, durante a Conversa, a importância da patrimonialização desses saberes e narrativas, de preservá-los através de políticas públicas de patrimônio, como forma de valorizar essa comunidade e de contribuir para sua “defesa” diante de injustiças. O Dia do Patrimônio de 2017 ocorre nos dias 18, 19 e 20 de agosto. As Conversas ocorrem às quartas-feiras e são abertas ao público. A próxima edição será no dia 24, às 18h, no Casarão 6, e vai abordar as “Memórias do Dunas”.

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