
Cras Z3 se caracteriza pela integração com a comunidade
Uma integração total à comunidade em que está inserido, esse é o ideal para qualquer serviço público e uma conquista do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da Colônia Z3, que atende a região e as praias. Uma das comunidades mais unidas de Pelotas, também acolhe os profissionais, que se inserem de forma quase irreversível na comunidade.
Para comprovar a ligação entre os servidores municipais e os moradores, basta ir até o Cras ou à Unidade Básica de Saúde (UBS) e perguntar há quanto tempo cada um trabalha naquela unidade, ou onde vivem. São pessoas que nasceram na Z3, ou que chegaram lá há anos (ou até décadas) e seguem, mesmo morando em outras regiões de Pelotas. E tem os que se mudaram para lá depois de começar a trabalhar.
A enchente de 2024 foi um momento que testou todo o Rio Grande do Sul. Em Pelotas, a Colônia Z3 foi um dos locais mais afetados, mas a maioria segue firme, e a motivação dos servidores do Cras, que ficaram na comunidade durante todo o período, mesmo com o prédio sendo invadido pela água, não diminuiu. A horta comunitária criada e mantida pelos servidores e usuários, e destruída pelas águas, começou a ser recuperada em dezembro, com recursos do Fundo Social do Sicredi, a partir de um projeto feito pela equipe. Além disso, já está contribuindo com a segurança alimentar de muitas famílias, com a assessoria da Emater.
Iniciativa impulsiona a segurança alimentar da comunidade. Imagens - Manuela Santos/Secom
A horta fica no pátio dos fundos do Cras, num terreno cedido pelo Sindicato de Pescadores da Colônia da Z3. Um grupo de 30 mulheres, crianças usuárias do Cras e estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Raphael Brusque, além dos servidores, cuidam do plantio, manutenção e colheita das hortaliças. Quando estão prontos para o consumo, os alimentos são usados nas refeições do Cras, da escola e, o que sobra, pode ser levado para a alimentação das famílias.
As crianças e adolescentes que utilizam o serviço recebem café da manhã e almoço, ou almoço e lanche da tarde, dependendo do turno em que estão no espaço. Os demais grupos tomam café no intervalo das atividades. Nisso, também entra a horta, que reforça a educação nutricional a partir do envolvimento das crianças no manejo, elas ficam mais curiosas e orgulhosas por serem responsáveis pela produção, o que incentiva o consumo.
A educadora social do Centro, Denair da Rosa, que se mudou para a Z3 depois que começou a trabalhar no local, diz que a horta é uma maneira de trabalhar com toda a família, inclui e agrega a comunidade. Esse mesmo espaço é usado para ensinar a mexer na terra, para alimentar a comunidade, para integrar e fortalecer as relações com as famílias, vizinhos e amigos.
Antes da enchente havia 18 canteiros produzindo, atualmente são oito com frutos, e outros sendo preparados e semeados. A produção é diversificada – couve, cebolinha, salsa e alface. Em breve plantarão cenouras, beterrabas e árvores frutíferas.
Lediane Teixeira Amaral, é neta, filha e esposa de pescador e, às vezes, acompanha o marido na pesca do camarão. Fora da safra, ela busca outras atividades. “Sempre gostei de ajudar, estar envolvida com a comunidade”, diz. Durante a infância e adolescência da filha mais velha, hoje adulta, Lediane a acompanhava em diversos grupos, como banda e capoeira. “Era bom quando tinha bastante atividade”, avaliou. Depois, essas programações ficaram mais escassas, e ela sentia falta. Agora participa de todas, “faz bem, tiro o filho de casa. Faz bem pra ele, também”. Ela convoca a família inteira – o filho e o neto, ambos com 11 anos, e o marido – e os quatro passam momentos juntos, cuidando da horta. Além disso, participa do grupo de mães, de artesanato e faz ginástica. Tudo no Cras.
O Cras da Z3 oferece ginástica do Grupo Vida Ativa, bailinho para os idosos; Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para crianças e adolescentes no turno inverso da escola, em que participam de oficinas educativas, desenham e brincam. Também tem oficinas de culinária para todos os públicos – independente de gênero, dos seis anos aos idosos; rodas de conversa sobre os mais diversos assuntos, como etarismo, direitos e violência. Sempre que são oferecidas parcerias, o espaço sedia cursos de capacitação, e jovens participam de oficinas para organizar currículos e se apresentarem em entrevistas, com o apoio do Senac. Nas férias são realizadas atividades especiais para as crianças.
A coordenadora do Cras, Jussara Vieira, explica que as pessoas que integram o serviço gostam de participar, de estar presente e se sentirem úteis em um grupo de iguais, por isso a comunidade é tão forte. Formada em psicopedagogia e neuropsicopedagogia, ela também afirma que a horta faz total diferença na vida dos participantes, com um recorte especial na saúde mental, a partir do contato com a terra e da autonomia no cultivo do alimento. “Estão plantando e colhendo coisas que eles mesmos produziram, e isso é muito importante, principalmente para aqueles que possuem algum tipo de deficiência. Aqui eles conseguem tocar, ir além da fala”.
A horta também representa reforço na educação nutricional. Foto - Manuela Santos/Secom
Fazem parte da equipe do Cras Z3 a coordenadora, dois assistentes sociais, duas psicólogas, três educadoras sociais, uma oficial administrativa, e uma auxiliar de serviços gerais.