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Do ovo às UBSs: o “caminho” percorrido pela vacina da gripe para imunizar a população em todo o País

Pelotas faz parte de uma rede nacional que colabora para a atualização do tipo de vacina aplicada em todo o Brasil

28-04-2020 | 11:25:41

Na fila, de máscara e mantendo distância das outras pessoas, o casal Luiz Carlos e Débora, aguarda com paciência para receber a vacina contra a gripe em uma Unidade Básica de Saúde de Pelotas. Aos 64 anos, aproveitam a Campanha Nacional de Vacinação para se imunizar desde que passaram a fazer parte de um dos grupos prioritários: os idosos. Em 2020 eles estão incluídos na expectativa do Ministério da Saúde de vacinar cerca de 67 milhões de brasileiros. Cidadãos ávidos por saúde, mas que desconhecem o processo feito até que as ampolas com o líquido tão importante nos dias atuais cheguem às cidades .

“Nunca pensei nisso, mas é bom saber, deve vir de longe e levar tempo para ser feita, afinal é muito importante pra nossa saúde”, reflete a aposentada Débora, em pleno outono gaúcho. Ela nem imagina que é na primavera, o período em que começa a ser feita a vacina capaz de prevenir uma das mais tradicionais doenças do inverno - a gripe. 

O casal Luiz e Débora se vacinam todos os anos contra a gripe, mas têm dúvidas sobre como as doses chegam até às UBSs - Foto: Michel Corvello

Mas esse trabalho inicia bem antes da fabricação da vacina, em uma espécie de pesquisa sem prazo para acabar. A cada edição da campanha de imunização a vacina é atualizada, ou seja, é composta pelas variantes virais mais registradas em casos de síndromes gripais notificados em todo o país, inclusive em Pelotas. Essa investigação é feita o ano todo, em vários lugares do Brasil e do mundo.

O município faz parte de um grupo de sete cidades gaúchas, onde é feita a coleta de material de pacientes e o registro de internações ocasionadas por síndromes gripais, a chamada Rede Sentinela. Os dados coletados nestes locais são enviados pela Secretaria Estadual da Saúde ao Laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro, onde são analisados os tipos de vírus da gripe que estão circulando no país. 

“A partir dessa informação o Ministério da Saúde consegue determinar quais as variantes dos vírus irão entrar na composição da próxima vacina”, explica Dóris Schuch, especialista em Saúde da Vigilância Epidemiológica da Coordenadoria Regional da Saúde. 

Neste ano a vacina é trivalente, ou seja, foi feita a partir dos três tipos de vírus com maior detecção no ano anterior pela Rede Sentinela brasileira, sendo eles o H1N1, H3N2 e o Infllueza B.

Fabricação

Depois da determinação dos vírus que irão compor as doses preventivas à gripe, então começa o processo de produção. A partir do fim de setembro o Instituto Butantan, em São Paulo, prepara cerca de 500 mil ovos de galinha, que recebem, todos os dias, uma solução viral - enviada pelos laboratórios referência da Organização Mundial da Saúde (OMS). “A vacina da gripe é feita a partir dos causadores da doença, o que ajuda o sistema imunológico a criar anticorpos e não adoecer”, explica Dóris Schuch.

Os vírus se multiplicam nos ovos, por isso pessoas que têm alergia a esse tipo de proteína não podem ser vacinadas contra a gripe. Cerca de uma semana depois, esse material passa por processos de concentração, purificação, filtração e inativação dos vírus - sendo que para cada tipo tudo é feito de forma única, ou seja, o tempo de preparação é isolado para cada um dos vírus, sendo multiplicado por três. Os concentrados virais só são misturados na fase de formulação para a composição da vacina. 

Fabricação da vacina da gripe no Instituto Butantan - Fotos : Instituto Butantan

A viagem da prevenção

Segundo o Instituto Butantan o processo de fabricação da vacina dura cerca de oito meses, mesmo com trabalho diário intenso. Um milhão de ampolas são preparadas todos os dias e até este mês ainda estão em plena fabricação. Tudo isso para atender a encomenda feita pelo governo federal, neste ano – 75 milhões de doses da prevenção contra a Influenza, um investimento de quase R$ 1 bilhão de reais.

Após ser embasada e embalada, a vacina ainda passa por vários testes de controle e garantia da qualidade para ser disponibilizada aos estados e municípios. A partir dessa etapa a responsabilidade pela proteção contra a gripe muda de mãos e passa a ser do Ministério da Saúde. Este é o órgão responsável pelo encaminhamento dos lotes com as doses para os estados. 

Do Instituto Butantan até a capital gaúcha, a viagem é longa, cerca de 1.121, quilômetros, pouco mais de um dia inteiro na estrada. Em Porto Alegre a vacina passa a ser administrada pela Secretaria Estadual da Saúde, e entregues às Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS).

Em solo gaúcho

No Estado a vacina é recebida pelo Núcleo de Imunização do Rio Grande do Sul e é distribuída a partir de dados populacionais oficiais repassados pelo IBGE. “Hoje, devido a demora do Ministério da Saúde para enviar a vacina, nós estamos buscando em Porto Alegre as doses disponibilizadas aos municípios, como forma de agilizar a distribuição para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs)”, explica a coordenadora Regional da Saúde, Caroline Hoffmann. 

Em caixas isotérmicas, mantidas em uma temperatura que varia entre 2 e 8 graus, as ampolas são entregues às vigilâncias epidemiológicas municipais para serem encaminhadas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e aplicadas nos moradores das cidades, encerrando o ciclo de produção e destino da vacina da gripe. Um processo sinônimo de promessa de dias com saúde para pessoas com o casal Luiz Carlos e Débora, que conseguiram garantir mais um ano de imunização.

Atrasos e doses insuficientes

Em 2020, a chegada nas UBSs e o dia, normalmente único, de vacinação têm sido acompanhado por algumas incertezas, entre elas, dificuldades em alcançar as metas de cobertura vacinal propostas pelos órgãos que administram nos municípios a campanha. Quem coordena o recebimento das remessas enviadas pelo Ministério da Saúde tem uma explicação: a pandemia do novo coronavírus.

Mesmo não sendo eficaz contra a doença, que já matou milhares de pessoas em todo o mundo, há uma recomendação da OMS para que todos que fazem parte dos grupos considerados prioritários - idosos, profissionais da saúde, pessoas com doenças crônicas, profissionais da área da segurança e transporte, presidiários, indígenas, gestantes, mulheres que tiveram filho recentemente e crianças até 6 anos -, recebam a dose. “É uma forma de se protegerem contra os outros vírus causadores da gripe e se precisarem de atendimento médico por sintomas de síndromes gripais serem monitorados para um possível caso de contaminação pelo Sars-Covid-2”, pondera Dóris Schuchu da Vigilância Epidemiológica estadual.

Mas a estratégia de antecipar o calendário de imunização, com a vacina ainda sendo fabricada, tem causado envio insuficiente de doses em um ano em que a população aumentou a procura por essa prevenção. 

 “Normalmente a campanha começa em maio, quando a fabricação já está completa. Por causa da pandemia do coronavírus, ela foi antecipada e as remessa estão sendo produzidas, isso gera o envio de um número insuficiente de doses e de forma mais espaçada”, justifica Caroline Hoffmann.

Idosos e profissionais da saúde prosseguirão sendo vacinados até o fim da campanha, em maio - Fotos Michel Corvello

Números

A expectativa é de que os 22 municípios que fazem parte da terceira Coordenadoria Regional de Saúde recebam no total 352 mil doses contra a gripe. Pelotas ficará com pouco mais de 150 mil. 

Mas até agora a cidade só conseguiu vacinar, conforme levantamento parcial da Secretaria Municipal da Saúde, 50.990 pessoas dos dois públicos-alvo da primeira etapa da campanha - idosos e trabalhadores em saúde. Esse número de imunizados representa 52,9% da meta de proteger esses dois grupos prioritários.

“Sabemos que a campanha já entrou em outra fase, mas idosos e os profissionais da saúde poderão procurar a vacina até encerrar a ação, no fim de maio”, tranquiliza a coordenadora das UBSs, Cristina Ventromilla.

 Não caia em fake news.

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vacina, gripe, fabricação, Rede Sentinela, atualização, coronavírus, doses, imunidade

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