Bate-papo envolveu sete pessoas, entre campeiros, acadêmicos da UFPel e Emater

4ª Conversa do Patrimônio abordou as Lidas Campeiras

Bate-papo envolveu sete pessoas, entre campeiros, acadêmicos da UFPel e Emater
Por Joice Lima 14-06-2018 | 20:31:48
Tags: conversas do dia do patrimônio, lidas campeiras

     No final da tarde de quarta-feira (13), na sede da Secretaria de Cultura (Secult), a 4ª edição do projeto Conversas do Dia do Patrimônio trouxe mais um tópico do evento que ocorrerá em 17, 18 e 19 de agosto e esse ano terá por tema "Pelotas Imaterial: saberes, fazeres e ofícios". Desta vez, o bate-papo foi sobre “Lidas Campeiras”. "Esses ofícios que estão quase extintos e que não se aprende na escola ou na academia", conforme destacou na abertura Lúcio Xavier, coordenador do Dia do Patrimônio,

Fotos: Paulo Ienczak.

     A Conversa contou com a presença de sete pessoas, sendo dois campeiros, quatro acadêmicos e uma representante da Emater/RS, que tinham um ponto em comum: conhecimentos sobre as lidas campeiras da região de Bagé.  

     Moradora de Palmas, distrito de Bagé, Vera Colares não escondia o entusiasmo ao falar das lidas que conhece muito bem, porque fazem parte do seu dia a dia: desde a campereada, a marcação, o aramado, a esquila a martelo, a doma, a arte da gastronomia (doces, churrasco, pães e licores), o correeiro, os causos, as picardias, a música e as festas típicas. Lembrou ainda da horta e do cercado, necessário para proteger a quinta das cabras, que "comem tudo o que vem pela frente", e da relação forte do homem/mulher com seu cavalo e com o cachorro. 'Está tudo interligado." 

     Abelardo Rodrigues, o "seu Beto", também é campeiro de Palmas e trouxe sua contribuição ao bate-papo. Contou que faz de tudo um pouco na fazenda que administra, onde vive há 48 anos."Sou até veterinário. Sou um doutor sem saber as teorias", brinca e mostra que não está brincando: "Os animais sofrem três espécies de 'tristeza'.Tem aquela que o bicho fica meio louco e se bota na madeira. Tem aquela que ele baixa os olhos e a terceira, quando afrouxa as cadeiras. Cada uma tem um remédio específico", garante. "Seu Beto" falou da importante relação do campeiro com o cavalo. Ele mesmo se levanta todo dia às 4h para levar o neto a cavalo na escola, que fica a 5 km de distância.

     Quatro acadêmicos da UFPel discorreram sobre seus trabalhos nessa área. Mestre e doutora em Antropologia Social, Flávia Rieth coordenou um Inventário das Lidas Campeiras na região de Bagé e entorno, desenvolvido entre 2010 e 2015. Com metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), a pesquisa contou com a participação dos acadêmicos Daniel Vaz Lima, Liza Bilhalva e Vagner Barreto, que logo desenvolveram dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o tema. Na Conversa, trouxeram diferentes tópicos de suas pesquisas.

     A antropóloga Liza Bilhalva falou sobre características que as pessoas que deixam o campo e mudam para a cidade levam consigo. "A questão da cultura campeira é tão forte que eles acabam por manter muitos dos seus hábitos, mesmo deslocados de seus espaços de origem. Alguns conceitos estão sempre com eles, como o respeito, a bravura, a disciplina e o capricho. Mesmo quem se dedica a fabricar objetos em couro, por exemplo, se o cliente tiver pressa e não puder fazer bem feito, recusa o serviço. Para eles é muito mais que um ganha-pão, é um modo de vida", destaca Liza.

     Daniel Vaz Lima fez uma dissertação de mestrado sobre as relações dos humanos com os animais. "Os campeiros mantêm vínculos com seus cavalos mesmo no contexto urbano e um modo de vida diretamente associado ao andar a cavalo', comenta, "não é à toa que Pelotas tem mais de 100 hospedarias de cavalos dentro do perímetro urbano". 

     Vagner Barreto explicou a importância dos rios e das águas nas lidas campeiras e Ana Rosa Sonaglio, representante da Emater-Rs/Ascar, falou sobre modos de vida vinculados ao pampa, da possibilidade de viver com qualidade no campo e da produção de artesanato com lã - a campeira/artesã executa todas as etapas desde a tosquia da ovelha; lava, carda e fia a lã, antes de tricotar a peça de roupa. 

     Durante o encontro, foi levantada a questão dos danos ambientais e às vidas das mais de 200 famílias que moram em Palmas, caso uma nova mineradora para extração de minérios seja instalada naquela região. 

     "Haverá uma mudança radial, nosso modo de vida vai se perder se esses processos minerários se estabelecerem no Rio Grande do Sul, isso sem falar na questão da poluição. O chumbo é um veneno. A extração contamina o rio Camaquã e pode afetar todos os 28 municípios banhados por ele, ao longo de 480 km de rio. O chumbo também contamina o ar em até 60 km de extensão, será um estrago irreversível. Mas nossa comunidade está unida, tempos uma resistência forte e não vamos permitir que isso aconteça", afirma Vera Colares.   

      

   

   

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